Confira o que o rapper LM falou em entrevista para a Batalha do Engenho


LM é uma das figuras mais irreverentes do Rap de Nikity, e ajudou a iniciar as rodas de rima na cidade. Com mais de dez anos na pista, o júri da Batalha do Engenho TÁ ON #003 solta o verbo num bate-papo que você confere a seguir: 

1. Você foi convidado duas vezes para ser jurado na Batalha do Engenho Tá ON por causa do seu legado nas batalhas de freestyle. Conte um pouco sobre esse início, quando você começou a batalhar e o que te motivou a participar numa batalha?

LM: Eu comecei a rimar eu devia ter uns 14 pra 15 anos, eu rimava no funk, costumava cantar nas festas pelo Engenho do Mato, festas no Vai e Vem, Mangueirão, na Av Central, época boa que se pagava 15 reais e tinha bebida liberada (kkkk), nessa época eu já fazia freestyle no funk, sempre me pediam pra "rimar na hora" com o nome de geral, do lugar e tal, e eu fazia isso bem, sempre treinei em casa antes de ir pra algum lugar, procurava ter referências da onde eu ia cantar pra poder mandar bem na rima na hora.

Aos 18 que eu migrei pro rap por não querer mais estar tão envolvido com crime, porque o funk era foda, eu cantava em baile também, então estava sempre ali no meio de arma e droga, e tinha tido problemas com a polícia na época, então estava tentando me afastar, pois achava que minha mãe merecia mais, sabe? Que ter que me ver sendo preso algum dia. Conheci o rap indo pro Rio, batalhas no CIC, na época, e logo em seguida o Marechal começou a fazer a Batalha do Conhecimento aqui, e eu decidi batalhar, porque sabia que sabia fazer aquilo bem, e não tinha tantas festas pra cantar rap igual no funk, então era ali onde eu podia rimar. Nunca me importei muito com ganhar as batalhas, eu sempre gostei mais de tentar fazer a rima mais foda da batalha, podia não ganhar mas eu queria ser lembrado.

LM / Foto: Adriana Attianezi @adriadttianezi

2. Conhecer a história do freestyle em Niterói é importante para a gente entender melhor a cena de hoje na cidade. Cite algumas das suas maiores conquistas em batalhas.

LM: Ganhei algumas batalhas do conhecimento que o Marechal fazia, ganhei Batalha do Tanque contra o Naan, mas muito antes da batalha ser famosa, lá no início mesmo, sabe? A primeira Batalha do Engenho? Não lembro se foi a primeira mas sei que ganhei uma aí! (Kk)*

Nunca gostei muito de "sangue", eu participava mais pelo movimento, as melhores rimas saiam nas rodas de freestyle, não nas batalhas.

*Confere. LM foi Campeão na 1ª Batalha do Engenho, realizada em 2013 pela Roda Cultural do Engenho do Mato

LM na Roda Cultural do Engenho do Mato (2013) / Foto: Marco Antônio MK

3. Cite algumas das suas referências e/ou influências em batalhas e no Rap em geral.

LM: Eterno Gil metralha, esse maluco era brabo demais, pra quem nunca viu pesquise. Emicida, Quinto andar, Shawlin, Don L, e hoje em dia gosto muito do Froid e Djonga, são brabos demais, ADL também! 

4. Fale um pouco sobre a sua carreira no Rap, como começou e o que já foi realizado.

LM: 2012 rodei o Rio todo com o Sem Miséria, meu primeiro grupo de rap. 

TH e Yuri chegaram a cantar em Curitiba, mas eu não pude ir. Nessa mesma época eu fazia a primeira roda de rima na Cantareira, tem até um documentário na Internet.

A gente trouxe muita gente pra cantar lá, o Felipe Ret lançou o primeiro CD lá também, ele fez um circuito em todas as rodas de rima do Rio, ADL, Funkeiro, teve uma galera de SP também. A gente fazia tudo sem fins lucrativos, muitas vezes eu tinha que pedir dinheiro pra ir embora, era mais pra movimentar a cena... não foi a primeira roda de rima de Niterói, a primeira foi em São Francisco, era a galera do AudioAtivo que fazia, Ricardinho, Babu. Aprendi muito com eles, eles fizeram os primeiros eventos também, onde a gente conheceu o Nissin... época boa. Depois fiquei um tempo afastado, questões financeiras, tinha que colocar dinheiro em casa e o rap não me trazia isso. 

2018 o Goedi me chamou pra SSM, fizemos alguns sons na casa dele que era o QG do bonde, mesma casa que foi filmado o clipe de "Pode Acreditar".

Com a SSM fiz show em São Paulo, Santos e muitos outros no RJ. Hoje sou da SSM, e estou lançando minha carreira solo pelo selo Roleta Russa, do meu amigo André Rios.

E tem esse projeto JRAH com o Nuquepi, onde a gente vem com o tipo de rap que a gente gosta, pesado, dedo na ferida.

5. Em 2019 rolou o show do JRAH na Pré Seletiva para o Duelo Nacional, que aconteceu no Teatro Popular Oscar Niemeyer. Conta mais sobre esse projeto.

LM: O JRAH é um projeto que eu gosto bastante, Jovem Rude e Anti-Herói, nele a gente gosta de colocar o dedo na ferida, falar verdades difíceis de engolir, lembrar que a vida é muita luta, que o rap é muita luta, é como diz um velho ditado, plante arroz e flores, arroz pra ter como viver e flores pra ter pelo que viver, o JRAH são as flores.

6. No contexto da pandemia, como está sendo pra tocar os projetos? O que você tem feito para tentar driblar as limitações impostas por essa nova realidade.

LM: Tá sendo um aprendizado novo, né... porém muito necessário, afinal tudo hoje é Internet, algo que talvez já era pra ter aprendido antes, facilitaria muito o "marketing' das coisas (kkkk). 

Acho importante dizer pra todos que visam viver da sua arte que a Internet é a maior forma de divulgar suas músicas, e o Face e o Google são ótimas ferramentas se você souber usar, antigamente pra alguém conhecer o seu som você tinha que fazer um evento ou viajar pra um lugar e cantar lá. Com essas ferramentas, você consegue mostrar suas músicas pra milhões de pessoas sem sair de casa, e isso facilita muito a criação do seu público. Claro que o ao vivo, olho no olho ainda é a melhor forma de fazer música, mas, veja bem, temos uma ferramenta que potencializa isso em milhões de vezes e não aprender a usá-la seria autossabotagem.

7. Como foi a experiência de ser jurado da Batalha do Engenho?

LM: Cara, Batalha do Engenho é muito maneira, admiro muito o projeto, de verdade. Eu gosto de ver essa galera mais nova com sangue nos olhos. Faz me lembrar eu mesmo há uns anos atrás. Acredito que a batalha de tema seja mais difícil pros MC's, e gosto desse desafio.

LM / Foto: Adriana Attianezi @adriattianezi

8. Como você enxerga a cena das batalhas e do Rap em geral nos dias atuais?

LM: As batalhas sempre foram muito importantes pro MC, ela é o seu primeiro palco, a maioria dos MC's fodas saíram das batalhas, é a "escola" do rap.

9. Planos para o futuro?

LM: Graças a Deus muitos, Vai ter CD da SSM, EP novo do JRAH, tenho mais de 30 sons prontos no Roleta Russa, e tá pintando uma nova parceria com uma galera do reggae ragga dub que ainda é segredo. Então me sigam nas redes @lm.jovemrude.ssm que tem muuuuita novidade vindo!

10. Conta pra gente um pouco do que o público vai assistir no dia 31/10 na Batalha do Engenho TÁ ON.

Eu fui mais crítico como jurado e acredito que a galera se empenhou muito nas batalhas, vai ser foda! Fiquem atentos, ativem o sininho e não percam! 


Entrevista concedida em Outubro de 2020.

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